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Agrishow . quarta-feira, 15 de março de 2017
Preços de hortaliças têm baixas expressivas do campo ao varejo

(Valor Econômico)

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A área de produção aumentou e o clima colaborou, mas o consumo não acompanhou o recente incremento da oferta de hortifrutigranjeiros no mercado doméstico, o que gerou uma crise de preços marcada por baixas que, no varejo de São Paulo, chegam a superar 50% em relação aos patamares do início de 2016.


"A crise é da batata, da cebola, do tomate, da cenoura, da beterraba. Enfim, de uma supersafra de todos esses produtos, beneficiada por um clima perfeito" diz Enori Barbieri, vice­presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).

O mercado catarinense é um dos que mais sentem a pressão do crescimento da oferta de cebola, que gerou quedas de preços que comprometeram a capacidade dos produtores locais de quitarem seus financiamentos.

Santa Catarina lidera a produção nacional de cebola. Responde por pouco mais de 30% do total, estimado em 1,4 milhão de toneladas pelo IBGE. De acordo com a Conab, em janeiro o preço médio do bulbo pago ao produtor foi 19,7% menor que o valor mínimo definido pelo órgão (R$ R$ 0,61 o quilo).

"O excesso de produção está sendo responsável por reduzir a inflação, o que torna mais barato socorrer os produtores", prega Barbieri. Junto com outras entidades, a Faesc tem defendido a prorrogação do prazo de pagamento dos financiamentos contratados na safra 2015/16

A prorrogação não foi aprovada pelo governo ­ ao menos por enquanto ­, mas pequenos produtores estão recebendo descontos acima de 50% nas parcelas de crédito contratado no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

E a queda chegou com força ao consumidor. No varejo paulista, em fevereiro o preço médio do bulbo foi 52,7% mais baixo que o do mesmo mês do ano passado, de acordo com o Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria da Agricultura do Estado.

Outro produto cujos preços amargam retrações expressivas é a batata. Em São Paulo, em fevereiro o quilo do tubérculo caiu 60% no atacado, conforme o Cepea/Esalq, e 42,2% no varejo, segundo o IEA, na comparação com fevereiro de 2016, quando a oferta estava comprometida pelo clima adverso.

São Paulo responde por pouco menos de 20% produção nacional de batata, estimada pelo IBGE em 3,8 milhões de toneladas. "Há três meses estamos registrando muito mais oferta do que capacidade de consumo, embora todo mundo esteja vendendo a batata por preços bem inferiores aos custos de produção", afirma o produtor paulista João Carlos Baroffi.

Apesar desse cenário, Baroffi diz estar otimista com a recuperação da economia, e consequentemente da demanda no mercado interno, ao longo deste ano.

Segundo avalia Flavio Godas, economista da estatal federal Ceagesp, os preços mais baixos de fato poderão impulsionar a demanda nos próximos meses, o que deverá levar a uma valorização desses produtos que estão em baixa. Mas ele afirma que, mesmo assim, "os preços vão permanecer em patamares satisfatórios para o consumidor, sem elevações significativas".

Em 2016, o volume comercializado pela rede paulista de entrepostos administrados pela Ceagesp caiu 4,7%, para 4 milhões de toneladas Em fevereiro, houve queda de 1%, para 271 mil toneladas.

De acordo com Godas, se mantido esse cenário, legumes e verduras devem apresentar altas sazonais de preços em março, devido ao clima e à entressafra de algumas culturas, para em seguida apresentarem uma maior estabilidade

"Vai depender muito do clima, do câmbio e também da inflação", pontua. O maior risco, segundo os modelos meteorológicos, seria de um retorno às condições de El Niño, o que poderia voltar a limitar as chuvas no país.

Segundo a Agência Americana de Pesquisas Atmosféricas e Oceânicas (NOAA), há 50% de chances de o fenômeno se formar no próximo semestre. Mas, segundo Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima, ainda é cedo para previsões precisas. "O fato é que, pelo menos por enquanto, teremos um clima muito mais neutro ainda favorável para as hortaliças".  

Fonte: Valor Econômico