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Agrishow . terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Inovar-Máquinas: indispensável para o Brasil

Não é a primeira vez que escrevo sobre a necessidade de uma política industrial que abranja o segmento de máquinas agrícolas e de construção.

A indústria de máquinas agrícolas e de construção tem mais de 50 anos no Brasil e se faz representar com fábricas das principais marcas mundiais, produzindo equipamentos com a mesma tecnologia (gestão, produção e inovação) de Europa, EUA e Japão. Além dessas, empresas nacionais como a Agrale e a Randon completam o parque industrial. Somos o único país do hemisfério sul que tem uma indústria desenvolvida e consolidada desses segmentos.

Apesar de serem indústrias intensivas em capital, têm também uma importância grande na geração de empregos diretos e indiretos, uma vez que possuem uma cadeia longa que congrega vários produtores de componentes.

Como os principais mercados mundiais não têm demonstrado dinamismo nos últimos anos (principalmente após 2008), e existe um enorme estoque, principalmente na Ásia, cresce sistematicamente a presença de produtos importados no Brasil.

Pensando nisso, a Anfavea apresentou ao governo, em outubro deste ano, o programa Inovar-Máquinas.

A finalidade, semelhante à do Inovar-Auto, é ganhar competitividade para o setor de máquinas agrícolas e de construção. Destaco que a perspectiva de crescimento desse setor demandante é superior à do PIB total.

Sabemos que a nossa indústria enfrenta muitas dificuldades para driblar os problemas que nos afligem e que tiram a competitividade da indústria manufatureira no Brasil, como custos dos fatores de produção em crescimento, sistema tributário bizantino, logística e infraestrutura em frangalhos, serviços públicos de baixa qualidade e por aí vai.

Assim, para retomarmos a competitividade industrial no segmento de máquinas, devemos melhorar a produtividade da indústria em toda a cadeia, o que requer infraestrutura, disponibilidade de mão de obra com educação técnica e logística adequada para exportação.

Além disso, é necessário fazer alguma ação com os fornecedores locais que estão sem investimentos e sendo igualmente pressionada por importações. Precisamos privilegiar também investimentos em pesquisa, ciência, inovação, qualidade dos fabricantes e fornecedores (consequentemente com aumento da competição). Enfim, é inegável que precisamos de uma política industrial setorizada e bem estruturada.

Basicamente é essa a ideia que está por trás do Inovar-Auto e, agora, do Inovar-Máquinas. E não se trata de uma necessidade menor. A participação das importações na demanda doméstica só aumenta ano após ano. Em 2013, por exemplo, os equipamentos importados representarão algo em torno de 10% das máquinas agrícolas e quase a metade das máquinas de construção.

O aumento sistemático dessa fatia de importações traz uma deterioração do parque fornecedor de autopeças no Brasil que, uma vez que a demanda não aumenta, não se sente compelido para investir em pesquisa e desenvolvimento ou em produtividade. Dessa forma, a diferença de competitividade entre o Brasil e outros países produtores só aumenta.

E isso, por consequência, afeta a decisão de investimentos das empresas produtoras. É cada vez mais econômico importar componentes do que comprar no mercado doméstico.

Dessa forma, não podemos esperar ter competitividade industrial para que a cadeia de fornecedores decida investir. Isso não vai acontecer. Neste momento temos que fazer um programa para inverter essa tendência. Esse foi o objetivo do Inovar-Máquinas – incentivo ao aumento de compras de peças e componentes no Brasil e ao investimento industrial e, também, na compra de máquinas industriais. O País só tem a ganhar com isso.

Vou antecipar um debate: talvez o Inovar-Máquinas seja criticado por aqueles que acham que o governo deveria ter um papel mais passivo na condução da política industrial. Discordo disso. Acho indispensável termos um programa de desenvolvimento da nossa indústria bem estruturado. A verdade é que, na ausência de um programa de incentivo à produção local, o “Custo Brasil” estimula o atendimento da demanda por peças e produtos com aumento das importações.

Temos que alterar a trajetória desse aumento das importações e isso passa pelo Inovar-Máquinas. Nesse ponto, a participação do governo é indispensável. Todos os nossos competidores – Coreia, Japão, China e o próprio Estados Unidos tiveram, em algum momento de sua história recente, ações corretivas para desenvolver o seu parque industrial.

Neste momento, a minha torcida é que a análise desse programa pelo governo não seja comprometida pelo calendário eleitoral e que não se passe muito tempo até que comecemos a discutir essa proposta. Vamos esperar !

Fonte: Por Milton Rego | Portal Cultivar